Post by nunosousa on May 8, 2004 13:20:51 GMT -5
O Pau estava enterrado no chão duro, enrijecido pelo sol e pela falta de água. César trouxera-o de uma árvore ali perto e juntava até si o maior número de pessoas possíveis que chamava entusiasticamente com o braço. As pessoas faziam um círculo à volta do pau e observavam tal como César ia dizendo a sua sombra que apontava para um homem alto que se sentia intimidado pela sombra indicadora daquele pau que tal como César dizia mostrava agora o andar do tempo a toda a gente. Desenhou com os dedos traços compridos colocando números em cada um deles verificando quando pôs o ultimo traço que já era tarde pois era para ali que a sombra se direccionava. Depois virou-se para o homem para onde era apontada a sombra e disse – Amanhã quero-vos todos a trabalhar quando a sombra estiver naquele traço – todos concordaram com a cabeça embora alguém dissesse estar velho demais para aquele modernismo e preferir regular-se pela luz do sol. César respondeu de imediato – Assim vais chegar atrasado! – depois foi-se embora observando que a sombra tinha adiantado e apontava agora para outro traço e para outra pessoa que andava agora para outro lugar. No dia seguinte todos estavam à volta do pau no traço combinado, alguns tinham-se levantado ainda de noite para ir verificar se o novo artefacto já indicava o tempo correcto para o início dos trabalhos mas só depois se lembraram que de noite ele não funcionava pois não havia sol para projectar a sombra do pau no chão. Petrovio tinha chegado há pouco tempo à aldeia mas já se habituara aos trabalhos forçados, vinha de longe e pertencia a uma raça diferente de gentes. Estava acostumado ao frio e falava uma mistura de uma língua estrangeira com a local e todos o entendiam, mas os seus pensamentos continuavam a ser na sua língua mãe e só com o tempo passaram a ser também compostos pelas duas línguas tornando-se mais confusos e imperceptíveis para ele. Também ele chegava a horas ao artefacto que marcava o tempo e esperava o início dos trabalhos verificando que a sombra já estava no traço combinado. César também chegava e rapidamente ordenou o começo dos trabalhos anunciando a pausa para almoço e o fim do dia para dois traços que ele pensara previamente no dia anterior. As pessoas não tinham mais que medir o tempo pela sua sombra ou levantar a cabeça e olhar para a posição do sol, bastava irem até ao círculo e verem em que traço estava indicada a sombra. Todos se dirigiram para lá dos campos onde se iam iniciar os trabalhos. Tratava-se da construção da nova aldeia para onde todos se iriam mudar em breve devido à subida do nível das águas que ameaçava cobrir a antiga. César repara na necessidade da mudança há bastante tempo, tal como todos mas só ordenara a construção da nova quando as primeiras ondas bateram no telhado da sua casa deixando algas nas suas telhas. Nesse dia pensou de imediato colocar em andamento a construção da nova aldeia assim como inventou o artefacto que marcava o tempo.
Todos trabalhavam agora debaixo do mesmo sol escavando os primeiros buracos, cortando as primeiras árvores que iam tombando para se erguer as novas habitações. Alguns paravam para ir até ao artefacto ver se já estava no traço indicado para a hora do almoço, mas logo César os proibiu de fazerem o que provocou algumas reclamações pois um homem logo disse – Se não pudermos ir até ao artefacto ver em que traço vai, como é que sabemos se saímos há hora certa, alguém tem que ir lá de vez em quando para confirmar e dizer em que traço vai, se não passa o tempo de saída e nós ainda cá estamos – César concordou e logo ordenou que um homem ficasse encarregue de ir regularmente até ao artefacto ver para que traço estava a apontar a sombra.
Petrovio estava a cortar madeira quando o homem que ia regularmente ao artefacto lhe veio dizer que a sombra estava agora num traço que já tinha estado há algum tempo atrás – A sombra está a andar para trás ! – Petrovio parou de cortar e disse – Assim é que nunca mais vamos almoçar ! Tens a certeza de que está a andar para trás ? – O Homem reflectiu como que se estivesse certificando – Tenho, está agora uma marca atrás do que há um bocado. – Depois Petrovio decidiu ir certificar-se embora sabendo que só aquele homem estava autorizado a abandonar o trabalho para ir ver o decorrer do tempo e nunca ele. Mesmo assim foi até ao circulo e foi surpreendido quando o homem lhe disse que a sombra do pau apontava agora para um traço ainda mais atrás – Não há duvida – dizia o homem – A sombra que marca o tempo está a andar para trás – Então o sol também está a andar para trás – concluía Petrovio verificando como o sol estava a arrastar todo o tempo para trás e por isso as suas marcas descerem e sentir-se novamente o orvalho - temos que falar com César, ele terá de definir novos horários de trabalho – afirmava o homem a olhar para o céu verificando que o sol estava agora mais perto das montanhas trocando o seu natural percurso e descrevendo um arco ligeiro. Ficaram ambos a olhar para o sol pois agora ele perdera a sua força e caía nas montanhas ao som de um galo. César observava agora o artefacto, não conseguira domar o tempo, olhava para o céu que ficava avermelhado e as pernas pesavam-lhe assim como a cabeça, tinha sono e em breve adormecia quando o sol desaparecera do mesmo lado onde havia nascido trazendo consigo a calma de uma madrugada. Também os outros trabalhadores adormeceram sentindo um leve peso do início do dia.
Já de noite todos acordaram e embora alguns se interrogassem se o sol iria nascer outros diziam que o tempo estava parado, tinha parado na noite. – Tudo maldição do artefacto do tempo – gritavam alguns. César ainda dormia e foi acordado por Petrovio que desta vez apenas na sua língua mãe lhe contou o que se passava nas ruas, as pessoas com velas acesas e tochas lamentando o fim do tempo anunciado primeiramente por alguém. César vestiu as calças depois de Petrovio calmamente lhe repetir a mensagem na mistura das duas línguas e apressousse para a rua. Verificou ao olhar para o mar que o nível das águas descera durante a noite e dizia para um conjunto de pessoas – Ainda é cedo ide para casa, em breve começa um novo dia e o sol vai nascer do lado do mar por enquanto vamos dormir, o tempo não parou, apenas o artefacto não projecta a sua sombra pois é de noite. Mas não há de ser sempre noite. – Petrovio ouvia e proferiu por fim – Mas a noite já dura há muito – depois sentiu por trás de si uma onda de luz fraca que vinha do mar e viu que todos olhavam para trás de si . Todos começaram a cantar e a celebrar o novo dia que tardava em vir dirigindo-se até à praia e comemorando com vinho e cantigas que celebravam o regresso do tempo marcado novamente pela sombra do pau no artefacto. César aceitava as celebrações e também brindava ao novo dia embora soubesse que ele se tivesse posto do lado errado e inaugurou ele próprio um baile que iria durar até à noite, pois esse dia iria ser bastante curto pois o sol descrevera todo o seu percurso por cima da aldeia bastante rápido e anoiteceria quando ainda alguns ainda começavam a dançar.
Todos trabalhavam agora debaixo do mesmo sol escavando os primeiros buracos, cortando as primeiras árvores que iam tombando para se erguer as novas habitações. Alguns paravam para ir até ao artefacto ver se já estava no traço indicado para a hora do almoço, mas logo César os proibiu de fazerem o que provocou algumas reclamações pois um homem logo disse – Se não pudermos ir até ao artefacto ver em que traço vai, como é que sabemos se saímos há hora certa, alguém tem que ir lá de vez em quando para confirmar e dizer em que traço vai, se não passa o tempo de saída e nós ainda cá estamos – César concordou e logo ordenou que um homem ficasse encarregue de ir regularmente até ao artefacto ver para que traço estava a apontar a sombra.
Petrovio estava a cortar madeira quando o homem que ia regularmente ao artefacto lhe veio dizer que a sombra estava agora num traço que já tinha estado há algum tempo atrás – A sombra está a andar para trás ! – Petrovio parou de cortar e disse – Assim é que nunca mais vamos almoçar ! Tens a certeza de que está a andar para trás ? – O Homem reflectiu como que se estivesse certificando – Tenho, está agora uma marca atrás do que há um bocado. – Depois Petrovio decidiu ir certificar-se embora sabendo que só aquele homem estava autorizado a abandonar o trabalho para ir ver o decorrer do tempo e nunca ele. Mesmo assim foi até ao circulo e foi surpreendido quando o homem lhe disse que a sombra do pau apontava agora para um traço ainda mais atrás – Não há duvida – dizia o homem – A sombra que marca o tempo está a andar para trás – Então o sol também está a andar para trás – concluía Petrovio verificando como o sol estava a arrastar todo o tempo para trás e por isso as suas marcas descerem e sentir-se novamente o orvalho - temos que falar com César, ele terá de definir novos horários de trabalho – afirmava o homem a olhar para o céu verificando que o sol estava agora mais perto das montanhas trocando o seu natural percurso e descrevendo um arco ligeiro. Ficaram ambos a olhar para o sol pois agora ele perdera a sua força e caía nas montanhas ao som de um galo. César observava agora o artefacto, não conseguira domar o tempo, olhava para o céu que ficava avermelhado e as pernas pesavam-lhe assim como a cabeça, tinha sono e em breve adormecia quando o sol desaparecera do mesmo lado onde havia nascido trazendo consigo a calma de uma madrugada. Também os outros trabalhadores adormeceram sentindo um leve peso do início do dia.
Já de noite todos acordaram e embora alguns se interrogassem se o sol iria nascer outros diziam que o tempo estava parado, tinha parado na noite. – Tudo maldição do artefacto do tempo – gritavam alguns. César ainda dormia e foi acordado por Petrovio que desta vez apenas na sua língua mãe lhe contou o que se passava nas ruas, as pessoas com velas acesas e tochas lamentando o fim do tempo anunciado primeiramente por alguém. César vestiu as calças depois de Petrovio calmamente lhe repetir a mensagem na mistura das duas línguas e apressousse para a rua. Verificou ao olhar para o mar que o nível das águas descera durante a noite e dizia para um conjunto de pessoas – Ainda é cedo ide para casa, em breve começa um novo dia e o sol vai nascer do lado do mar por enquanto vamos dormir, o tempo não parou, apenas o artefacto não projecta a sua sombra pois é de noite. Mas não há de ser sempre noite. – Petrovio ouvia e proferiu por fim – Mas a noite já dura há muito – depois sentiu por trás de si uma onda de luz fraca que vinha do mar e viu que todos olhavam para trás de si . Todos começaram a cantar e a celebrar o novo dia que tardava em vir dirigindo-se até à praia e comemorando com vinho e cantigas que celebravam o regresso do tempo marcado novamente pela sombra do pau no artefacto. César aceitava as celebrações e também brindava ao novo dia embora soubesse que ele se tivesse posto do lado errado e inaugurou ele próprio um baile que iria durar até à noite, pois esse dia iria ser bastante curto pois o sol descrevera todo o seu percurso por cima da aldeia bastante rápido e anoiteceria quando ainda alguns ainda começavam a dançar.