Post by Paulo Henrique Alves Machado on May 16, 2007 12:31:05 GMT -5
Santo Antônio do Rio Abaixo: o milagre
Frei José era um italianinho de vinte e cinco anos, aparentando, no entanto, ser senhor de seus trinta e tantos. Estava ali naquela balsa numa missão muito triste: dar extrema unção aos viajantes moribundos. Até aquele momento já havia sido obrigado a fazê-lo em duas ocasiões; todas elas por uma única causa: afogamento. Havia seis meses, saíram de São Paulo, tomando o rio Tietê – o estranho rio que sai de bem próximo do litoral e corre para o interior – depois foram parar em um outro muito grande, chamado Paraná; desceram até as terras da coroa espanhola, subiram por outro chamado Paraguai e agora navegavam por um rio tortuoso e cheio de armadilhas, chamado Rio Cuiabá. Os perigos maiores daquela viagem eram os selvagens da terra e as maleitas.
Aqueles homens não era o que se poderia chamar “civilizados”. Tinham um único propósito na vida que era o de ficarem ricos o mais rápido possível. E, em nome desse ideal faziam loucuras como aquela, ficar de seis meses a cinco anos no sertão, voltando, muitas vezes, de mãos vazias, ou mesmo jamais retornando ao lar.
Era como uma guerra. Tudo era precário, sem conforto. Aquelas pessoas desiludidas já não respeitavam nada. Somente as armas impunham respeito ali. À religião, recorriam em caso de morte, doença ou perigo iminente. Frei José não se sentia nada confortável junto àquelas criaturas brutalizadas. Ele fora um menino mimoso, educado numa excelente escola de Florença. Aos quinze anos já era professor de latim, escrevera ensaios elogiados sobre história e sobre a arte renascentista, trabalhara no Vaticano e agora estava ali naquele fim de mundo, junto a homens que não sabiam sequer o que fora o renascimento. Na tentativa de cativá-los, o jovem monge carregava junto a sua bagagem uma imagem de Santo Antônio, o santo português. Sendo eles portugueses ou descendentes diretos desses, frei José acreditou que aquela imagem os tornaria mansos, mas aquela gente já não respeitava nada: eram adeptos da luxúria e da libertinagem. Esta imagem de Santo Antônio, no entanto servia de companhia a pobre figura do frade franciscano, ao menos dois franciscanos ali, tementes a Deus.
O sol já começava a declinar quando passaram pela aldeia dos Bororos isso significava que estavam há duas milhas do arraial do Rio Abaixo. A tripulação ficara alvoroçada ao se aproximar da aldeia; certamente loucos para tomarem liberdades com as mulheres selvagens – conhecidas pela beleza de seus corpos, bem como pelos seus cabelos muito negros e escorridos – mas era melhor se apressarem para chegar ao arraial, onde era a parada de costume. Ali descansariam dormindo em terra, comeriam a mujica de peixe feita por “nhá Mariquinha”, ou “chá Mariquinha”, como preferia os aldeões, e depois seguiriam até Lavras do Sutil.
Porém em boa hora aportavam no Rio Abaixo, já que os Guatós (índios inimigos) montavam emboscadas no trecho entre Rio Abaixo e Lavras. A notícia foi recebida com decepção pela maioria já contaminada pela febre do ouro e ansiosa por encontrar logo sua fortuna para empreender o quanto antes à viagem de volta. Frei José era um desses, tão logo chegasse às Lavras e recebesse a devida esmola por seus serviços religiosos, retornaria na próxima balsa para São Paulo e dali só sairia se fosse para retornar a velha e boa Itália; do contrário, passaria o resto da vida limpando o chão de algum liceu, mas nunca mais retornaria àqueles sertões.
Em terra, os homens pareciam recobrar sua humanidade: alguns faziam a barba, lavavam as roupas para irem a missa, usavam um vocabulário mais cristão e chegam mesmo a fazer pé-de-alferes a alguma rapariga do povo. Tão diferentes daqueles animais que viajavam em companhia de um frei assustado com tamanha selvageria. E assim passaram três dias; o Franciscano chegou mesmo a rezar missa no arraial, enchendo de esperança o coração dos aldeões que a muito imploravam por um padre. Mas eis que as balsas começaram a descer e a trazer notícias de que um tal comandante José Maria afugentara os selvagens, expulsando-os para muitas léguas de distância. Tão logo souberam, os viajantes deixaram suas ocupações temporárias para voltarem à balsa.
Creio ter-me esquecido de dizer que os viajantes haviam chegado num dia de muita chuva, encontrando um rio bastante ressaqueado, cheio e furioso. Três dias depois, ele estava bem mais calmo e o nível das águas abaixara um pouco. Pois reside aí a segunda grande frustração dos aventureiros: a balsa chata estava encalhada em um banco de areia.
Mestre Vasques, aldeão e canoeiro velho, coçou a cabeça cabeluda e sentenciou:
- É ter paciência e esperar o estio.
Antônio Golvea ficou furioso:
- Arrelio! É alugar os burros e seguir por terra.
Gomes era um homem alto, moreno de olhos muito negros e barba cerrada. Era a figura mais robusta daquela comitiva. Amarrou uma corda à cintura e a atou ao barco, lançando-se, em seguida, ao rio. Frei José pensou consigo:
- Mais uma vítima para esse rio-serpente! Crendo que Gomes também morresse afogado. Mas o musculoso jovem teve sucesso no seu trabalho.
- Só a frente está encalhada.
- Arrumem então um cavalo! Disse Manoel Dias.
- Matam-me todos os cavalos e burros sem sucesso. Respondeu Mestre Vasques.
Gomes tinha um plano: primeiro aliviar toda a carga da chata e depois rebocá-la com três canoas indígenas (cada uma com três remadores), puxando-a a favor da correnteza. O trabalho era arriscado, no entanto, para os rebocadores que poderiam ser atropelados pela balsa. Porém Gomes garantia que tão logo a embarcação fosse desencravada, as cordas seriam cortadas para que as canoas fugissem do rebote da chata, enquanto os homens em terra a seguravam. E assim fizeram.
Tudo fora retirado da embarcação, até mesmo o pequeno Santo Antônio que fora imediatamente levado para o interior da casa mais próxima. Os aldeões tinham veneração por imagem de santos e não poderia deixá-la ali, no meio dos cacarecos imundos.
Gomes estava pronto para executar o trabalho, não estava, no entanto, seguro do sucesso e temeroso de uma tragédia. Os companheiros de empreitada também temiam pelo pior e, assim, logo ouviu-se:
- Valei-nos Nossa Senhora!
Mas Gomes era Espanhol e moçárabe. Sua história estava mais voltada ao islão que ao cristianismo. Com todo o respeito à mãe de Jesus, mas não era esse grito que lhe vinha à garganta.
- Deus é grande! Gritou finalmente.
E ao som daquela invocação do nome de Deus os esquifes dispararam puxando com força. Gomes liderava, no remo, um dos esquifes. Suor e água misturavam-se naquela jornada perigosa e brutal. Eis que o mouro sentiu a embarcação deslizando lentamente.
- Mais forças, homens lá!
A madeira da embarcação cantou escorregando do barro para a água profunda.
- Corta agora! Gritou o mouro.
A chata, como se esperava, avançou contra as canoas com ferocidade. A de Gomes, que estava no meio, sofreu o golpe da embarcação maior. Chá Mariquinha já gritava chorando:
- Oh Jesus, que eu encomendo! Meu sonho ruim! Ai! Ai!
- Homem na água!
- Não carece desespero. O homem está com vida. Disse mestre Vasques.
Gomes quebrara a perna, mas não havia nada que o fizesse ficar ali, queria ir para Lavras com os companheiros. O desfecho dramático não foi empecilho, para os viajantes ansiosos por chegar ao “El Dorado”; de forma que recomeçaram a viagem tão logo a tala foi colocada em Gomes. Frei José nem conseguiu terminar o chá de ervas que a velha Mariana fizera para o seu resfriado.
- Embora, padre de Deus!
O frade entrou na embarcação, rebuçou e dormiu um sono pesado sob o balanço das remadas da galé. Quando acordou já era noite e alguns dormiam enquanto outros montavam guarda à embarcação, bebendo aguardente e fumando seus cachimbos. Frei José procurou a companhia do ilustre franciscano, mas não o encontrou. A imagem de Santo Antônio ficara no arraial do Rio Abaixo para alegria dos aldeões e tristeza do pobre frade.
Frei José ficou ainda uma semana nas Lavras do Sutil, também conhecido pelo nome do rio: Cuiabá. Mas não houve como se adaptar, tão logo recebeu um bom número de recompensas, tratou logo de se retirar. Ao pararem no arraial do Rio Abaixo, frei José constatou com alívio que os aldeões haviam cuidado muito bem da imagem do santo; e o devolveram com tristeza. Porém, ao embarcarem para continuar a viagem, eis que a balsa encalha novamente, por sorte havia outra balsa que, bem atrelada à outra por uma trave, fez o reboque de maneira menos dramática que a anterior. Os passageiros, no entanto, estavam indignados, dizendo que a culpa era do padre, “designo de Deus”; “Nosso Senhor quer que ele fique!” E não o aceitavam na embarcação. Mas o capitão, usando de muita perspicácia e bom senso, sentenciou com cara de piedade:
- É o santinho! O santo quer ficar! Deixe a imagem, bom padre, e vamos seguir viagem.
Os passageiros esperavam a decisão do franciscano com ansiedade e ele entendeu que era a única maneira de seguir para a civilização. Beijou a imagem e pediu desculpas em latim, entregando-o a chá Mariquinha.
- Cuide bem desse santinho, nhá!
Ela, com lágrima nos olhos:
- Com a minha vida, meu bom padre.
O frei embarcou muito triste e nunca mais foi visto por aquele povoado. Mas, quando a balsa desapareceu no rio, mestre Vasques comemorou:
- O santo quis ficar com a gente! Viva nosso santo milagreiro! Viva Santo Antônio do Rio Abaixo.
Frei José era um italianinho de vinte e cinco anos, aparentando, no entanto, ser senhor de seus trinta e tantos. Estava ali naquela balsa numa missão muito triste: dar extrema unção aos viajantes moribundos. Até aquele momento já havia sido obrigado a fazê-lo em duas ocasiões; todas elas por uma única causa: afogamento. Havia seis meses, saíram de São Paulo, tomando o rio Tietê – o estranho rio que sai de bem próximo do litoral e corre para o interior – depois foram parar em um outro muito grande, chamado Paraná; desceram até as terras da coroa espanhola, subiram por outro chamado Paraguai e agora navegavam por um rio tortuoso e cheio de armadilhas, chamado Rio Cuiabá. Os perigos maiores daquela viagem eram os selvagens da terra e as maleitas.
Aqueles homens não era o que se poderia chamar “civilizados”. Tinham um único propósito na vida que era o de ficarem ricos o mais rápido possível. E, em nome desse ideal faziam loucuras como aquela, ficar de seis meses a cinco anos no sertão, voltando, muitas vezes, de mãos vazias, ou mesmo jamais retornando ao lar.
Era como uma guerra. Tudo era precário, sem conforto. Aquelas pessoas desiludidas já não respeitavam nada. Somente as armas impunham respeito ali. À religião, recorriam em caso de morte, doença ou perigo iminente. Frei José não se sentia nada confortável junto àquelas criaturas brutalizadas. Ele fora um menino mimoso, educado numa excelente escola de Florença. Aos quinze anos já era professor de latim, escrevera ensaios elogiados sobre história e sobre a arte renascentista, trabalhara no Vaticano e agora estava ali naquele fim de mundo, junto a homens que não sabiam sequer o que fora o renascimento. Na tentativa de cativá-los, o jovem monge carregava junto a sua bagagem uma imagem de Santo Antônio, o santo português. Sendo eles portugueses ou descendentes diretos desses, frei José acreditou que aquela imagem os tornaria mansos, mas aquela gente já não respeitava nada: eram adeptos da luxúria e da libertinagem. Esta imagem de Santo Antônio, no entanto servia de companhia a pobre figura do frade franciscano, ao menos dois franciscanos ali, tementes a Deus.
O sol já começava a declinar quando passaram pela aldeia dos Bororos isso significava que estavam há duas milhas do arraial do Rio Abaixo. A tripulação ficara alvoroçada ao se aproximar da aldeia; certamente loucos para tomarem liberdades com as mulheres selvagens – conhecidas pela beleza de seus corpos, bem como pelos seus cabelos muito negros e escorridos – mas era melhor se apressarem para chegar ao arraial, onde era a parada de costume. Ali descansariam dormindo em terra, comeriam a mujica de peixe feita por “nhá Mariquinha”, ou “chá Mariquinha”, como preferia os aldeões, e depois seguiriam até Lavras do Sutil.
Porém em boa hora aportavam no Rio Abaixo, já que os Guatós (índios inimigos) montavam emboscadas no trecho entre Rio Abaixo e Lavras. A notícia foi recebida com decepção pela maioria já contaminada pela febre do ouro e ansiosa por encontrar logo sua fortuna para empreender o quanto antes à viagem de volta. Frei José era um desses, tão logo chegasse às Lavras e recebesse a devida esmola por seus serviços religiosos, retornaria na próxima balsa para São Paulo e dali só sairia se fosse para retornar a velha e boa Itália; do contrário, passaria o resto da vida limpando o chão de algum liceu, mas nunca mais retornaria àqueles sertões.
Em terra, os homens pareciam recobrar sua humanidade: alguns faziam a barba, lavavam as roupas para irem a missa, usavam um vocabulário mais cristão e chegam mesmo a fazer pé-de-alferes a alguma rapariga do povo. Tão diferentes daqueles animais que viajavam em companhia de um frei assustado com tamanha selvageria. E assim passaram três dias; o Franciscano chegou mesmo a rezar missa no arraial, enchendo de esperança o coração dos aldeões que a muito imploravam por um padre. Mas eis que as balsas começaram a descer e a trazer notícias de que um tal comandante José Maria afugentara os selvagens, expulsando-os para muitas léguas de distância. Tão logo souberam, os viajantes deixaram suas ocupações temporárias para voltarem à balsa.
Creio ter-me esquecido de dizer que os viajantes haviam chegado num dia de muita chuva, encontrando um rio bastante ressaqueado, cheio e furioso. Três dias depois, ele estava bem mais calmo e o nível das águas abaixara um pouco. Pois reside aí a segunda grande frustração dos aventureiros: a balsa chata estava encalhada em um banco de areia.
Mestre Vasques, aldeão e canoeiro velho, coçou a cabeça cabeluda e sentenciou:
- É ter paciência e esperar o estio.
Antônio Golvea ficou furioso:
- Arrelio! É alugar os burros e seguir por terra.
Gomes era um homem alto, moreno de olhos muito negros e barba cerrada. Era a figura mais robusta daquela comitiva. Amarrou uma corda à cintura e a atou ao barco, lançando-se, em seguida, ao rio. Frei José pensou consigo:
- Mais uma vítima para esse rio-serpente! Crendo que Gomes também morresse afogado. Mas o musculoso jovem teve sucesso no seu trabalho.
- Só a frente está encalhada.
- Arrumem então um cavalo! Disse Manoel Dias.
- Matam-me todos os cavalos e burros sem sucesso. Respondeu Mestre Vasques.
Gomes tinha um plano: primeiro aliviar toda a carga da chata e depois rebocá-la com três canoas indígenas (cada uma com três remadores), puxando-a a favor da correnteza. O trabalho era arriscado, no entanto, para os rebocadores que poderiam ser atropelados pela balsa. Porém Gomes garantia que tão logo a embarcação fosse desencravada, as cordas seriam cortadas para que as canoas fugissem do rebote da chata, enquanto os homens em terra a seguravam. E assim fizeram.
Tudo fora retirado da embarcação, até mesmo o pequeno Santo Antônio que fora imediatamente levado para o interior da casa mais próxima. Os aldeões tinham veneração por imagem de santos e não poderia deixá-la ali, no meio dos cacarecos imundos.
Gomes estava pronto para executar o trabalho, não estava, no entanto, seguro do sucesso e temeroso de uma tragédia. Os companheiros de empreitada também temiam pelo pior e, assim, logo ouviu-se:
- Valei-nos Nossa Senhora!
Mas Gomes era Espanhol e moçárabe. Sua história estava mais voltada ao islão que ao cristianismo. Com todo o respeito à mãe de Jesus, mas não era esse grito que lhe vinha à garganta.
- Deus é grande! Gritou finalmente.
E ao som daquela invocação do nome de Deus os esquifes dispararam puxando com força. Gomes liderava, no remo, um dos esquifes. Suor e água misturavam-se naquela jornada perigosa e brutal. Eis que o mouro sentiu a embarcação deslizando lentamente.
- Mais forças, homens lá!
A madeira da embarcação cantou escorregando do barro para a água profunda.
- Corta agora! Gritou o mouro.
A chata, como se esperava, avançou contra as canoas com ferocidade. A de Gomes, que estava no meio, sofreu o golpe da embarcação maior. Chá Mariquinha já gritava chorando:
- Oh Jesus, que eu encomendo! Meu sonho ruim! Ai! Ai!
- Homem na água!
- Não carece desespero. O homem está com vida. Disse mestre Vasques.
Gomes quebrara a perna, mas não havia nada que o fizesse ficar ali, queria ir para Lavras com os companheiros. O desfecho dramático não foi empecilho, para os viajantes ansiosos por chegar ao “El Dorado”; de forma que recomeçaram a viagem tão logo a tala foi colocada em Gomes. Frei José nem conseguiu terminar o chá de ervas que a velha Mariana fizera para o seu resfriado.
- Embora, padre de Deus!
O frade entrou na embarcação, rebuçou e dormiu um sono pesado sob o balanço das remadas da galé. Quando acordou já era noite e alguns dormiam enquanto outros montavam guarda à embarcação, bebendo aguardente e fumando seus cachimbos. Frei José procurou a companhia do ilustre franciscano, mas não o encontrou. A imagem de Santo Antônio ficara no arraial do Rio Abaixo para alegria dos aldeões e tristeza do pobre frade.
Frei José ficou ainda uma semana nas Lavras do Sutil, também conhecido pelo nome do rio: Cuiabá. Mas não houve como se adaptar, tão logo recebeu um bom número de recompensas, tratou logo de se retirar. Ao pararem no arraial do Rio Abaixo, frei José constatou com alívio que os aldeões haviam cuidado muito bem da imagem do santo; e o devolveram com tristeza. Porém, ao embarcarem para continuar a viagem, eis que a balsa encalha novamente, por sorte havia outra balsa que, bem atrelada à outra por uma trave, fez o reboque de maneira menos dramática que a anterior. Os passageiros, no entanto, estavam indignados, dizendo que a culpa era do padre, “designo de Deus”; “Nosso Senhor quer que ele fique!” E não o aceitavam na embarcação. Mas o capitão, usando de muita perspicácia e bom senso, sentenciou com cara de piedade:
- É o santinho! O santo quer ficar! Deixe a imagem, bom padre, e vamos seguir viagem.
Os passageiros esperavam a decisão do franciscano com ansiedade e ele entendeu que era a única maneira de seguir para a civilização. Beijou a imagem e pediu desculpas em latim, entregando-o a chá Mariquinha.
- Cuide bem desse santinho, nhá!
Ela, com lágrima nos olhos:
- Com a minha vida, meu bom padre.
O frei embarcou muito triste e nunca mais foi visto por aquele povoado. Mas, quando a balsa desapareceu no rio, mestre Vasques comemorou:
- O santo quis ficar com a gente! Viva nosso santo milagreiro! Viva Santo Antônio do Rio Abaixo.